domingo, abril 18, 2010

II Encontro Catarinense de Análise do Comportamento


Eu havia dito que deixaria esse blog de lado, ao menos até a passagem dos compromissos firmados para o doutoramento, enquanto as atividades concorrentes com ‘estudar’ (ler, sintetizar, escrever e etc) deveriam ser minimizadas.
Porém, vale a pena comentar sobre esse evento, nem que em umas poucas linhas mal escritas e que certamente não serão suficientes para relatar os principais fatos e suas ótimas decorrências para mim, um psicólogo analista experimental do comportamento em construção.
A expectativa era grande, muito antes do evento, já em 2009 esperávamos por ele, mas por circunstâncias que não valem comentários mais extensos ele precisou ser adiado. Além de adiado o encontro teve pouco tempo para ser divulgado o que provavelmente impossibilitou que muitas pessoas participassem. Afirmo que muitas gostariam de ter ido, eu, meus colegas e alunos somos testemunhas disso.
Vou destacar alguns pontos importantes no prazo que me permiti escrever nesse domingo, ainda há uma resenha a fazer e tenho que ao menos terminar de ler o livro, já sou um doutorando suficiente mente ‘negligente’ e declarar publicamente que estou utilizando o pouco tenho que tenho para fazer algo ‘fora’ do doutorado é, digamos, complicado. Talvez a premissa ‘avaliar evento científico’, como parte das atividades do encontro suavize as eventuais críticas sobre ... ... opa, vou parar e seguir no texto, por vezes gasto mais tempo em me ‘justificar’ do que em ‘demonstrar’.
O primeiro comentário será sobre a organização. Nesse evento mesmo o pretenso participante mais negligente, que fez o depósito e perdeu o comprovante foi aceito como inscrito pela equipe de organização. Claro que era eu, oras! Até me propus pagar novamente, mas não foi necessário, pois alguém realmente havia depositado o valor na conta, arriscamos que aquele seria o dia do meu depósito.
O valor cobrado foi muito abaixo do que geralmente é praticado em eventos científicos, mas não pensem que por isso o evento foi de algum modo insuficiente, muito pelo contrário, provavelmente ajudou em muito a quem não consegue participar dos eventos científicos em função dos altos custos. Afinal, para que e a quem os eventos científicos servem? Estão conseguindo ajudar na construção de novos cientistas ou apenas estão reunindo profissionais pretensamente ‘prontos’ que ou estão bem ‘formados’, ‘hiper-capacitados’?
Deixo a pergunta em aberto, mas com uma provocação, reunir me parece mais uma atividade do que um verdadeiro comportamento-objetivo.
Outra evidência que o valor cobrado foi suficiente foram os lanches dos intervalos, há anos eu não comia tâmaras, já paguei, ou melhor, meus pais já haviam me pago congressos caríssimos onde mal consegui comer umas bolachinhas secas, claro que muitas pessoas da Família Botomé-Kubo não cobraram horas-trabalho na organização, mas isso não é demérito para o fato que é sim possível fazer mais com menos.
Outro destaque foi a rara possibilidade de ver e ouvir os relatos, se me permitem o termo, ‘apaixonantes’ das experiências, algumas aquelas de laboratório, parte de um conjunto maior do qual essas práticas científicas sejam sub-conjuntos, Outras tantas que descreveram quais as condições dispostas de modo a produzir comportamentos de altíssimo valor que caracterizam os cientistas presentes no encontro. A história de vida da Frei Cecchin foi comovente, fez pensar realmente em a quem servimos, a noção de ‘necessidade social’ tão proferida pelos professores estava ali escancarada. Outra que muito me emocionou foi a do Roberto, acreditem que ele não começou como é hoje, teve muitos percalços que devem ter sido identificados na própria história profissional das pessoas lá presentes, mas eu falo por mim, enxerguei muitas das pessoas que produziram condições para que eu pudesse hoje me manter por meios próprios como psicólogo, algo que na saída da graduação me deixou sem dormir, e não foram poucas noites. Faltou o Silvio, a Olga, talvez sejam casos de ‘modéstia crônica’, fica a ‘deixa’ para eventos posteriores.
O termo ‘encontro’ identifica muito bem o que aconteceu, no momento não sei como demonstrar de modo mais adequado ‘como’. Talvez ‘congresso’, ‘simpósio’, ‘semana’ simplesmente não fossem suficientes, avaliem. Uma ‘coisa’ é assistir, outra é ‘participar’. Nesse encontro em especial ocorreram trocas muito especiais, parece que a concorrência era de quem ajuda mais, quem está mais atento, também não sei explicar. O que sei é que, embora não saiba explicar como eu saí do II ECAC fortalecido como profissional analista experimental do comportamento, as palavras do amigo Roberto Banaco, do grande mestre Isaías Pessotti, da gentil Tatu, da amável Vera Otero, do persistente Silvio Paulo Botomé, da dedicada Olga Mitsue Kubo e do admirável exemplo de vida Antônio Cecchin, além dos queridos colegas de mestrado e doutorado, uma grande família dispersa pelo nosso pequeno estado. Vocês fizeram isso: ‘fortaleceram’, talvez a palavra fosse outra, não encontrei verbo mais adequado até o momento. Patrícia, Elaine, Fernanda, Helder, Geovane, Gabriel e Sandra são exemplos de pessoas as quais mudam meus ‘humores’ assim que os encontro, tal qual ocorria com os gregos. Para que o paciente Isaías não fique preocupado, afinal foi muito tempo explicando isso na pizzaria, digo que eu verifiquei por um indício, a frequência de sorrir ao longo do encontro parece um bom dado de que os que essas pessoas fazem é altamente apetitivo para este organismo.
Como não emocionar-se com a história da construção dessas pessoas? Sim, são todas pessoas, pude verificar por meio de observação e vocês pelo meu registro. Todos estavam disponíveis para conversar, tirar dúvidas, beber cerveja e comer pizza. Quem foi ao encontro provavelmente verificou que as formalidades que tanto são enfatizadas no ‘mundo acadêmico’(as ‘peruagens’) começaram, provavelmente, a não fazer muito sentido. Assim como um pequeno pedaço de pão foi sacralizado em detrimento da fraternidade que representava (Botomé, 2010, o questionem também sobre ‘a tara por brigadeiros em festa de aniversário’) a sacralização das gravatas, ternos e discursos incompreensíveis parece atrair mais do que o que efetivamente é comportamento de cientista, em um evento de troca de experiências entre pessoas que buscam compreender mais algum fenômeno científico, como se portassem velas em uma imensidão escura.
Claro que há sugestões, o prazo de divulgação decorreu de problemas os quais os organizadores não tinham muito controle, mas vale dizer que com mais tempo mais pessoas poderiam ter sido beneficiadas. Outro ponto, comentado pelo Isaías e como qual concordo (argumento de autoridade?) é que houve pouco tempo para ‘conversas de corredores’, algumas ‘trocas’ que poderiam ter ocorrido e, quem sabe, poderão ocorrer em outras edições. Explico: quando há apresentações de trabalhos, os profissionais mais experientes podem contribuir com cada pequeno grupo de alunos (claro que me refiro aos profissionais mais ‘dedicados’, ‘curiosos’ e ‘responsáveis’, há quem vá ao shopping ou à praia nesses momentos). Talvez não necessariamente seria necessário apresentar trabalhos, mas mais ‘intervalos’ poderiam possibilitar um ‘contato’ maior entre os participantes do evento.
Por fim, algo que pude perceber, avaliar e relatar aqui é que a noção de comportamento, tal qual ‘profetizada’ pelo Silvio, que humildemente sempre atribui suas contribuições a outras pessoas (provavelmente aprendeu com Cecchin e Isaías), faz cada vez mais sentido. Comportamento como a relação entre o que um organismo íntegro faz em um ambiente inicial que possibilita essa ação e o ambiente modificado por essa ação torna a Análise Experimental do Comportamento diferenciada em relação a outras sub-áreas da Psicologia. Agradeço a todos os participantes pelas contribuições para o meu repertório de cientista, seja como professor, pesquisador ou ‘interventor direto’, que essa ‘união para o bem’ perdure e se amplie.

Um forte abraço.

Carlos L. Rohrbacher.

São Bento do Sul, 18 de abril de 2010.