quarta-feira, agosto 01, 2007

Vida escoteira e 100 anos de escotismo


Após tantos centenários de clubes de futebol e da passagem do milênio (2001 e não 2000, lembram disso?) os números grandes já não me assustavam mais. Eram milhares para os seres humanos, milhões para os dinossauros e bilhões para o universo.
Mas esse número me fez pensar, ainda mais quando tive que fazer uma pequena cerimônia com meus escoteiros para celebrá-lo. Foram quatro anos como lobinho, dois como escoteiro e agora dois como chefe de tropa, oito anos que perante os cem pouco, muito pouco parecem representar. Quem sabe o longo intervalo entre eles tenha me permitido ter uma idéia melhor sobre as mudanças que ocorrreram, seja no próprio movimento quanto nos seus membros e em mim, um desses entusiastas.
Uma coisa por vez então. O movimento, pelo pouco que conheço teve muitas mudanças, o início ocorrido durante o período de desmantelamento das fronteiras geográficas de um império, antes disso a resistência aos bôeres (hoje provavelmente seriam chamados insurgentes) e a s muitas experiências do velhinho de Nome Baden Powel. Um desavisado poderia relacionar ele a alguma canção do autor homônimo, à cerveja Baden-baden ou a algum cantor de música negra (afrodescendente é o termo mais ridículo já criado, e ponto). Um passado distante que parece esconder o que ocorreu nos anos seguintes, pelo menos é a impressão que tenho ao ler o que contam os tradutores dos livros e os desavisados que ministram cursos sobre escotismo.
Fatos como a militarização do movimento ocorrida em muitos períodos (contínuos) da história são colocados à margem quando não propositalmente esquecidos. A transformação do escotismo em juventude hitlerista e as saudações integralistas ainda ecoam mundo afora, mesmo que mantidas sob um incômodo sigilo que transparece em medo e inabilidade em lidar com fatos que influenciam o movimento até o momento atual. Basta perguntar o que é escotismo... muitos irão responder e provavelmente a maioria deles não vai saber de onde veio que repetem , ou inventam. Eu me sinto papagaio também, temo que por muitas vezes tenho colocados flores onde há espinhos para que a imagem do movimento seja melhor e assim a minha tropa e o meu grupo sejam beneficiados, admito. Penso que eu deveria saber, já com um curso básico, respostas para perguntas que me atormentam como escotista, produzir uma definição para “O que é escotismo?” já seria um bom começo.
As mudanças em mim, a partir do movimento podem ter sido quanto a uma organização pessoal, persistência e necessidade de trabalhar em grupo que permearam a minha infância em matilha (cinza) dentro da alcatéia. Talvez minhas maiores glórias (ao menos na infância) tenham sido materializadas nos distintivos, estrelas e no Cruzeiro do Sul do “antigo regime”, possíveis dela dedicação dos meus chefes que não se furtavam em me deixar fritar ovos em suas casas a fim de conseguir especialidades. O fracasso como escoteiro pode ter tido relação com uma brusca mudança para o “Mundo dos homens”, despido de minhas conquistas mas não de meu orgulho e simbiose com meus tutores escotistas. Da ausência de ambos, somada a um mundo novo em uma comunidade mista que era relegada a segundo plano, ao menos até a adolescência (Grupo Folclórico Germânico Edelweis, falecido) veio a minha saída do movimento.
Após muitos anos o retorno à cidade que não era mais a mesma, seja por suas distâncias antes percorridas a pé e de bicicleta ou das amizades perdidas após quase dez anos de exílio veio a necessidade de reintegrar as fileiras de um grupo escoteiro.
O sentimento de estranheza não foi só para como a cidade, o meu antigo grupo também havia mudado, fantasma do que fôra em meus tempos de Alcatéia, decadente que me lembro desde a tropa a qual quase não participei.
A proposta de um novo grupo foi animadora tanta quanto assustadora, começar do zero teria seus benefícios, ao não lidar com vícios antigos e destrutivos, substituindo-os por muita boa-vontade e vícios novos, mas nem tanto. Nada fácil lidar com escoteiros na idade de lobos e ainda mais difícil mudar a forma de trabalhar com eles na medida em que mudam, tornam-se mais independentes e surge uma nova geração com a qual todos temos que lidar. Acredito em um trabalho bem feito até aqui, minha parcela dos 100 anos foi curta até o momento, mas não foi em vão. Quanto mais sei de histórias sobre as pessoas que estão sob minha tutela mais me impressiono como não vejo neles indícios desses comentários. Será que há uma mudança tão brutal nesse poucas horas (somam-se aí as outras de planejamento) com esses meninos ou o "mundo" à volta deles é que não percebe o quanto precisa mudar para que eles mudem? Eu aposto na segunda alternativa e por isso sigo em frente.

Sempre Alerta!

P.S.I B.F. Skinner não foi escotista, mas é a base do escotismo que conheço. A definição eu vou ficar devendo, mas uma dica: Observe as mudanças que ocorrem, investigue e arranje contingências para que novas mudanças ocorram.

P.S.II Outra coisa, B.P não foi a figura messiânica que tanto lhe querem impor, eu não serei mais um a fazer isso
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